Os carvões
são doenças que se caracterizam pela produção de massas pulverulentas escuras
na parte aérea das plantas. Estas massas são constituídas por estruturas
reprodutivas do patógeno, fato que torna os carvões prontamente identificáveis,
não tanto pelos sintomas, mas, principalmente, pelos sinais presentes nas plantas doentes.
Os carvões
têm distribuição generalizada, atingindo praticamente todas as áreas do mundo
onde se pratica a agricultura. Os cereais, como trigo, milho, cevada e aveia,
são constantemente afetados pela doença. É também um problema sério para outras
culturas, como cana-de-açúcar, cebola e cravo ornamental.
A maior
frequência de ataque de carvão é verificada nos grãos ou sementes, em razão do
patógeno atingir o ovário das plantas; neste caso, que compreende os carvões
dos cereais, o fungo desenvolve-se e produz uma massa escura de esporos (soros)
que substitui o conteúdo dos grãos. Os soros podem ser formados também nas
folhas, hastes ou componentes florais, dependendo do hospedeiro. Quando tecidos
tenros, provenientes da germinação da semente, são atacados pelo patógeno ou quando
este atinge o ovário de uma planta adulta, e a respectiva semente é colocada
para germinar, ocorre infecção sistêmica da nova planta. Por outro lado, quando
o fungo coloniza todos tecidos meristemáticos, a infecção é do tipo localizada.
Os carvões
são causados por fungos basidiomicetos e compreendem, aproximadamente, mil e
cem espécies capazes de infectar plantas pertencentes a mais de setenta e cinco
famílias botânicas. Estes fungos apresentam especificidade em relação ao
hospedeiro, inclusive com ocorrência de raças fisiológicas. São considerados
parasitas obrigatórios e desenvolvem uma forma de parasitismo evoluído, apesar
de, geralmente, não formarem haustórios.
Como
parasitas evoluídos, os patógenos convivem por longo tempo com o hospedeiro
antes que os sintomas se tornem visíveis. No caso dos carvões de cereais, o
patógeno desenvolve-se às custas da planta desde a germinação da semente e os danos
manifestam-se, normalmente, no estádio de formação dos grãos. O patógeno afeta
as plantas atacadas tanto pela retirada de nutrientes como por modificações que
causa no desenvolvimento de meristemas e grãos. Durante o ciclo vital do fungo,
são produzidos basicamente dois tipos de esporos, os teliósporos e os
basidiósporos, além de micélio primário (monocariótico) e micélio secundário
(dicariótico). Os esporos são facilmente disseminados pelo vento, podendo atingir
hospedeiros localizados nas proximidades ou a grandes distâncias da fonte de
inóculo.
Sintomatologia:
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Carvão em Milho provocado por Ustilago maydis. |
Os carvões
podem se manifestar de diferentes formas em relação ao hospedeiro. No caso de
trigo e aveia, os sinais tornam-se evidentes na fase de emissão e formação das
espigas e panículas, quando se observa a presença de massas escuras que
substituem os grãos. As espigas e panículas tornam-se escuras e liberam
facilmente um pó preto, que corresponde aos teliósporos do fungo. No milho, os
grãos são substituídos por estruturas semelhantes a bolhas totalmente
preenchidas por teliósporos do patógeno. Estas estruturas escuras têm um
tamanho várias vezes maior que um grão de milho normal, e devido à hiperplasia,
provocam uma deformação na espiga como um todo. A ocorrência do carvão em
cebola assemelha-se aos sintomas de danos em plântulas do tipo pós-emergência (damping-off), pois os tecidos jovens
mostram-se muito suscetíveis. Na cana-de-açúcar, o meristema apical sofre uma
modificação e passa a formar um apêndice. Esta estrutura, denominada chicote, é recoberta por uma película
prateada e contém uma massa escura formada por esporos do fungo. Assim, de modo
geral, os carvões são identificados principalmente com base nos sinais, ou
seja, nas estruturas do patógeno associadas às plantas doentes. Estas estruturas
são produzidas no interior de partes vegetais modificadas, principalmente grãos
e meristemas, e tornam-se evidentes na forma de massas escuras e pulverulentas.
Além da presença
dos sinais, em alguns casos podem ocorrer outros tipos de sintomas, como
subdesenvolvimento, perfilhamento excessivo e, mais raramente, morte do
hospedeiro.
Etiologia:
Diversos
gêneros pertencentes ao grupo dos basidiomicetos estão associados aos vários
tipos de carvões que ocorrem em plantas cultivadas, com destaque para o milho,
o trigo, a aveia e a cana-de-açúcar.
Estes patógenos
apresentam especificidade quanto ao hospedeiro, são parasitas evoluídos e
obrigatórios. Normalmente formam esporos, como teliósporos e basidiósporos, e
desenvolvem micélio monocariótico (primário) e dicariótico (secundário). Formam,
também, estruturas do tipo soro, que contém os teliósporos.
Ciclo da
Relação Patógeno-Hospedeiro:
Os patógenos
que causam os carvões atuam como parasitas obrigatórios e, na ausência do
hospedeiro no campo, têm sua sobrevivência assegurada, principalmente, pelos
teliósporos. Estes esporos podem estar presentes em sementes contaminadas,
restos de cultura e no solo. Em alguns casos micélio dormente é encontrado nos
tecidos internos da semente. Por esta razão, restos de cultura e sementes são
as principais fontes de inóculo da doença. A disseminação é feita pela água de enxurrada ou irrigação, que
arrasta os propágulos existentes no solo, dispersando-os dentro da área de
plantio. O vento é o agente que promove a disseminação do patógeno a longas
distâncias, quando o inóculo está presente nas espigas de cereais ou nos
chicotes de cana-de-açúcar. A água, na forma de respingos, também dissemina
este inóculo na própria planta e para plantas vizinhas. Assim, quando o agente
de disseminação é o vento, o inóculo não necessariamente tem origem na própria
área ocupada pela cultura, mas pode ser proveniente de outras áreas. A infecção de um hospedeiro pode ocorrer
de diferentes formas. A infecção do embrião ocorre quando um esporo disperso pelo
vento atinge o estigma de uma flor que, após germinação, instala-se no ovário;
em seguida, o micélio permanece dormente na semente; posteriormente,
desenvolve-se, de modo sistêmico, na planta proveniente da germinação da
semente infectada; finalmente, manifesta-se na fase de formação de espigas ou
panículas. A infecção de plântulas tem
origem a partir de uma semente contaminada externamente por teliósporos; estes
germinam e infectam o coleóptilo; em seguida, o micélio desenvolve-se
sistemicamente nos tecidos vegetais; por fim, as panículas passam a exibir
massas de esporos no lugar dos grãos. A infecção de meristema, como no caso da
cana-de-açúcar, ocorre quando o esporo atinge uma gema, provocando modificação
no seu desenvolvimento e dando origem a uma estrutura diferente daquela normalmente
produzida pela gema; no final do ciclo, são formados esporos que ocupam esta
estrutura. Tanto os teliósporos, dispersos a partir de um hospedeiro vivo como
aqueles que passaram por um período de sobrevivência, germinam e formam um tubo
germinativo ou promicélio, que se transforma em um basídio. Este,
posteriormente, dará origem aos basidiósporos. Estes esporos sexuados germinam,
originando o micélio primário, que pode até penetrar os tecidos do hospedeiro,
não conseguindo, porém, colonizá-los. O micélio secundário origina-se a partir
da plasmogamia entre dois micélios primários compatíveis. A penetração se
processa de forma direta, quando o patógeno atinge a superfície de um tecido
suscetível. A colonização ocorre
predominantemente através do crescimento inercelular do micélio secundário,
normalmente sem a presença de haustórios. Os sintomas aparecem de diferentes
formas: nos cereais, como trigo, aveia, milho e outros, o conteúdo dos grãos é
substituído por massas pulverulentas escuras constituídas de teliósporos; os
sintomas na cana-de-açúcar manifestam-se, principalmente, na forma de uma
apêndice filiforme (chicote), cujo interior contém os teliósporos. A reprodução do patógeno ocorre quando as
hifas dicarióticas, que se desenvolvem dentro dos grãos ou nos meristemas,
sofrem clivagem. Cada célula que compõe o micélio transforma-se em um
teliósporo. Esta massa de teliósporos é, inicialmente, recoberta por uma
película de tecido do próprio hospedeiro, a qual, posteriormente, rompe-se,
permitindo a dispersão dos esporos. Os fatores ambientais que interferem mais
diretaente na ocorrência e desenvolvimento dos carvões são a temperatura e a
umidade. O carvão da cana-de-açúcar e o carvão do milho são favorecidos em
regiões de alta umidade e temperatura relativamente elevada (25-30°C); os carvões
dos cereais de inverno são mais severos em condições de temperatura mais amena
(16-20°C) e elevada umidade.
Referências
AMORIM, Lilian; REZENDE, Jorge
Alberto Marques; FILHO, Armando Bergamin. Manual de Fitopatologia: Princípios e
Conceitos. Vol 1. Ed 4. Piracicaba: Agronômica Ceres. 2011. p. 487-490.
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